Imamo Agy
Foi dos poucos senão o único músico moçambicano que actuou com estrelas de cinema indiano como Dharmendra, Saji Kapur, Amitabh Bachchan em Moçambique.
Imamo Agy Suaife, mais conhecido por Imamo Agy, nasceu a 15 de Dezembro de 1957
Na terra dos Macondes, na província de Cabo Delgado, filho de Agy Suaife Queque e de Jubeda Jussab, com 9 irmãos.
A vocação musical, parte da Madrassa (Escola Islâmica não estatal). É lá onde eu comecei a cantar muito, fazia uma dupla com Abel Latifo Saíde (falecido). Cantava as canções muçulmanas. Destacámo-nos muito nas cerimónias.
No futebol, as crianças do meu tempo começavam a jogar com bolas de pano, sacos ou mesmo elásticos de pneus. Cá no sul é o famoso “xingufo”. Na música, as primeiras guitarras eram feitas com latas de azeite de oliveira. Foi assim que eu tive a minha primeira viola e comecei a tocar algumas coisas. Quando o meu primo voltou da tropa colonial, veio visitar-nos.
Quando viu aquela guitarra de lata, quase que riu-se e disse que tinha uma guitarra convencional em casa mas que não tinha fios. Quando ouvi isso, saí a correr e fui a sua casa fui buscar a guitarra. Como não tinha fios, roubei dinheiro do meu pai e fui comprar fios numa loja do senhor Marques chamada “Espingardaria Texas”.
Montei os fios e a partir daí comecei a treinar sozinho e chamei ouros que sabiam tocar para me ensinar e depois de um mês, já tocava melhor que outros que haviam me ensinado.
Há males que vêm por bem. Recordar que quando fez a guitarra de lata, roubou dinheiro do pai para comprar fios de Nylon, quando teve a guitarra convencional sem fios roubou dinheiro do pai para comprar fios. Portanto, graças a esses pequenos deslizes, temos o Imamo Agy hoje grande músico.
No dia 18 de Dezembro de 1973 entrei na FRELIMO. Fui a Tanzânia (Mtwara-Massassa), com o meu tio antigo combatente.
Em 1974, depois dos Acordos de Lusaca, os combatentes voltaram para Moçambique. No mesmo ano lá para Dezembro, fomos transferidos para Maputo. Saímos divididos em companhias directamente para o Estado Maior General.
Alguns ficaram no Estado Maior, outros foram para Boane, para o Centro de Preparação Politico Militar. Eu como tinha jeito para secretariar, fiquei secretário de 1 chefe grande.
No ano de 1977, fui seleccionado para participar num curso ligado ao Estado e fui afecto na província de Manica no Gabinete de Ligação. No ano seguinte 1978, fui seleccionado de novo para vir a Maputo fazer um outro curso e fui afecto na 3ª Brigada em Manica Catandica até Bárue. Em 1979 fui transferido para Maputo directamente para o Ministério da Defesa até 1985, onde fui seleccionado para uma preparação politico Militar em Munguine. Fomos recrutados “ Samora Machel não queria barrigudos no seu exército”. Todos oficiais tinham que ir correr, eu era Alferes mas no exército este é considerado Oficial, então fui abrangido.
1986, passei a disponibilidade. Tinha estudado pouco, e quando tentei ver o que podia fazer para ganhar a vida, a única saída de vi foi resgatar o dom que tinha como Músico. Fui para a RM para tentar gravar. Tive dificuldades, anualmente ia para lá mas era muito difícil ultrapassar as barreiras que existiam para um músico desconhecido “lembro-me quando a gente ensaiava no Ministério da Educação” (frisou ele pois nessa altura estávamos juntos numa bandinha no MEC, que não durou muito tempo).
Por sorte, acabei encontrando um conterrâneo, o dono da Miami Fashion House. Fui pedi-lo para que me ajudasse pois estava difícil gravar na RM mas que também faziam aluguer de Estúdio. Ele patrocinou o Estúdio de gravação na RM. Fui pagar 10 horas mas gravamos a música em 2 horas no máximo. Assim gravei a minha primeira música “Idunia” em 1993 que me fez o que sou hoje como músico.
Daí começou a minha carreira como músico profissional. Fui acompanhado pela maior parte das bandas existentes na altura, Central Line, Homba Mô, Kapa 10, etc. não consegui estar com uma banda pois eu não queria aquele barulho existente nas bandas e também achei que sozinho estava melhor não dividia com ninguém.
Graças a Deus, sou um dos poucos músicos moçambicanos que tive uma carreira naquele tempo difícil era comparado como outros músicos dos países vizinhos como África de Sul, que um músico basta lançar uma música de sucesso é adeus a pobreza. Um ano depois de lançar “Idunia”, já tinha 3 carros em casa, comprados com o dinheiro da música e não boladas. Quando pedia patrocínio era dado muito dinheiro.
Uma das pessoas que me ajudou foi o Dr. Éneas Comiche quando era PCA do Banco de Moçambique. Patrocinou-me uma digressão pelo país. O Armando Guebuza quando era Secretario da FREIMO comprou-me o microfone e misturador que usei na digressão.
Éramos apenas 3 Moçambicanos que tínhamos um Home-Studio, eu, o Fernando Luís e o Stuwart. Muitos músicos gravaram na minha casa, Guegué, Mário Timane, Tomás Guilhermino, Joana Comuana, Pedro Murima, etc.
Quando achei melhor, decidi voltar para Cabo Delgado, concretamente Pemba minha terra Natal, para realizar um sonho, que é edificar uma Escola de Música. Tive dificuldades. Apresentei-me ao governo, as entidades cometentes e apresentei o meu projecto mas não tive apoio. Apenas tive apoio moral. Arregacei as mangas, juntei algum valor e levantei paredes de bambu e cimento. Assim nascia a minha Escola de Música.
Quando comecei não dava aulas de música, criei um concurso de “descoberta de talentos”, criei um movimento que até tive visita num sábado do representante da Helvetas. Apreciou o trabalho e no fim veio ter comigo e convidou-me para o seu escritório para conversarmos sobre as necessidades que tinha para levar avante o meu projecto de Escola de Música. Lá fui, arrolei as minhas necessidades. Precisava de instrumentos, guitarras, bateria, flautas, teclado entre outros que achei necessário para o andamento do projecto.
3 meses depois, veio a embaixadora da Suécia e a Bárbara apresentou-me a ela e como já sabia do assunto, aprovou o orçamento do projecto e nele vinha contido a construção em material convencional da Escola. Fui a Maputo comprar os instrumentos para a Escola, o Ex presidente da Autoridade Tributária ajudou-me no transporte dos mesmos para Pemba.
Quando acabou a Escola comecei a formar. Foram 8 cursos consecutivos até já não Escola devido a outras ocupações que foram surgindo durante o percurso.
Na sua discografia, conta com 2 álbuns “Idunia e Estou na minha Cena”. Tem também 8 vídeos Clip´s.
Imamo Agy tem 7 filhos, 7 netos
É membro da Assembleia provincial mas também continua na música.
Bem haja Imamo Agy.